Rascunho
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Sabe aquele papel amarelado em que você rascunhou a lápis aquele belo texto?
Sabe aquele papel amarelado em que você rascunhou a lápis aquele belo texto?
Deve ter sido eu. Minha mania de achar que as pessoas sentem como eu sinto, amam como eu amo. Me iludir com as palavras que escuto e me decepcionar com a inexistência de ações. Culpo a mim por acreditar, mesmo dizendo e repetindo que desconfio, aqui dentro nutro a crença nas pessoas. Culpo a mim por ler o outro com os mesmos olhos que me autoleio. A pior coisa que aconteceu na minha vida foi eu amar demais as pessoas.
Por que as pessoas se destroem?
Por que as pessoas insistem em, pouco a pouco, dia após dia, destruir nossos sentimentos?
O que tem de errado em ser sincero, em ser amável, em ser amigo, companheiro ou solidário?
As pessoas agem com tanta indiferença que dia após dia se afundam em um abismo sem volta. Tudo bem. Podem se afundar, mas parem de me levar junto. Por favor.
Parem de dizer palavras sem verdade, parem de abusar das fragilidades, parem de mentir.
Por que as pessoas me destroem?
parece que o mundo vai desmoronar, ou melhor, já desmoronou. Falando sozinha com as páginas em branco, na tentativa de encontrar oxigênio para voltar à vida. O mundo ficou de ponta cabeça ou era antes que ele estava assim? Não sei se agora eu não encontro meu chão ou se vivi até aqui flutuando. Eu sei quem eu sou, conheço minha identidade, meus objetivos são claros, meus gostos e vontades, aquilo que me faz feliz e me dá vontade de viver. Apesar disso, também parece, às vezes, que estou no abismo do meu eu.
No entre limites, entrelinhas do ser e conhecer.
Não há remendo a ser feito, nem cola capaz de consertar. Nem tudo na vida é passível de quebra-cabeça. E tudo na vida é passível de ser despedaçado.
Mais uma noite, todas as noites desde que eu amei pela primeira vez. Mais uma noite, eu senti como se tivesse sido esmagada por toneladas de algum material denso. Mais uma noite, eu senti como sou um grão em um milhão. Mais uma noite, eu senti que não queria sentir nada. Nunca. Sempre. Nada. Pro resto de todas as vidas que eu possa ter.
Hoje eu já choro sem saber o motivo. Eu choro no meio da tarde, quando acordo e quando vou dormir. Hoje eu choro sem aviso, sem ter hora pra chorar. Eu choro de angústia, de tristeza, de alívio, de medo, de saudade e sem saber qual sentimento estou sentindo. Hoje eu já choro olhando pela janela o movimento da rua, no metrô pensando na vida, ouvindo música deitada na cama. Choro por tantas coisas e pessoas que nem sei mais porquê coisas e pessoas choro. Tem gente que diz pra não chorar, outras pessoas dizem que chorar faz bem. Mas eu não penso mais sobre isso, porque ao invés de pensar, eu choro.