Alice


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Sem saber você me ensinou muito sobre ser mulher, bastaram seus exemplos de vida, sem necessidade de qualquer palavra ou sermão sobre o tema. 

Mesmo vindo de uma formação patriarcal e de uma geração na qual "mulheres não podem ser presidentes", sua vida mostrou e provou o contrário. Mulheres podem ser tudo que elas quiserem! 

Criou, sustentou, amou e educou dois filhos sozinha. Enfrentou o preconceito de ser uma mulher divorciada e abandonada pelo marido na década de 60/70 e se transformou numa mulher forte e dona da própria vida. Usou e abusou da criatividade no meio do caos para sustentar a casa, até empreendedora virou. Do sofrimento de viver no auge do machismo no casamento e no abandono da traição renasceu forte e independente. Da dureza que a vida lhe impôs conseguiu dançar sobre ela nos bailes, teve muitas amizades e namorados. Queria que a vida não tivesse te imposto tantos sofrimentos, mas seria uma utopia pensar em "menos sofrimentos" para mulheres que nasceram no Brasil nos anos 30 e viveram a ditadura. Do nascimento à adolescência, me lembro das histórias que você me contava sobre seu pai super rígido, sobre o fato de você ser uma das três mulheres dentre 5 irmãos e de ser "natural" o tratamento diferenciado entre as irmãs mulheres e os irmãos homens. Mesmo assim, mesmo sem saber uma linha sobre feminismo, mesmo sem proferir qualquer ideia progressista sobre o tema, você viveu o "ser mulher" quando tudo era ainda pior e mostrou que mulher pode sim ser tudo que quiser!

viva sua independência, força, liberdade e vida!

hoje só sou quem sou porque você foi essa mulher incrível!

a mulher que sou hoje deve tudo às mulheres que me antecederam!

Rascunho


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Sabe aquele papel amarelado em que você rascunhou a lápis aquele belo texto? 

Sou eu.
Não sou o papel, sou o texto.
O belo texto, mas que foi rascunhado a lápis. 
Hoje em dia as palavras estão um tanto quanto sumidas, algumas bem apagadas impendem a compreensão das frases antes formadas. 
Ninguém mais lembra a completude daquela obra, as palavras que faltam foram esquecidas pelos que as leram. 
O tempo passou e as marcas de grafite se desfizeram, ninguém notou a degradação daquela escrita, ninguém lembrou de fazer uma cópia, ninguém apreciou a beleza da obra o suficiente para guardá-la com cuidado ou transformar o grafite em tinta permanente. 
O texto meio apagado, a folha que as pessoas mal enxergam, as palavras descartadas...
Sou eu. 

Não sou. Sou tinta permanente, mas vocês insistem em dizer o contrário para mim. 
Mesmo que ninguém note, eu sou a escrita que fica, que propaga, que eterniza. 
Essa sou eu!

a pior coisa que aconteceu na minha vida...


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Deve ter sido eu. Minha mania de achar que as pessoas sentem como eu sinto, amam como eu amo. Me iludir com as palavras que escuto e me decepcionar com a inexistência de ações. Culpo a mim por acreditar, mesmo dizendo e repetindo que desconfio, aqui dentro nutro a crença nas pessoas. Culpo a mim por ler o outro com os mesmos olhos que me autoleio. A pior coisa que aconteceu na minha vida foi eu amar demais as pessoas.


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Por que as pessoas se destroem?
Por que as pessoas insistem em, pouco a pouco, dia após dia, destruir nossos sentimentos?
O que tem de errado em ser sincero, em ser amável, em ser amigo, companheiro ou solidário?
As pessoas agem com tanta indiferença que dia após dia se afundam em um abismo sem volta. Tudo bem. Podem se afundar, mas parem de me levar junto. Por favor.
Parem de dizer palavras sem verdade, parem de abusar das fragilidades, parem de mentir.
Por que as pessoas me destroem?


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parece que o mundo vai desmoronar, ou melhor, já desmoronou. Falando sozinha com as páginas em branco, na tentativa de encontrar oxigênio para voltar à vida. O mundo ficou de ponta cabeça ou era antes que ele estava assim? Não sei se agora eu não encontro meu chão ou se vivi até aqui flutuando. Eu sei quem eu sou, conheço minha identidade, meus objetivos são claros, meus gostos e vontades, aquilo que me faz feliz e me dá vontade de viver. Apesar disso, também parece, às vezes, que estou no abismo do meu eu. 

no limite do conhecer


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No entre limites, entrelinhas do ser e conhecer. 


O que sua boca diz, o que seu corpo movimenta, o que sua cabeça pensa, o que sua alma sente.

No emaranho das mentiras que o ser humano conta e nas falsidades que dele emana, como crer em alguém?

Nunca conhecemos, nunca conheceremos.

Apunhalando um e outro, uns aos outros.

A leitura que você faz do mundo não pode servir como lente para a um outro olho, um outro olhar.

Alteridade. 

Se fazer de libertário não te torna cool.

Se dizer libertário, se autointitular, não te libera para agir ignorando o outro. 

Alteridade. Sinceridade. Autenticidade.

Lhe falta. Muito.


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Tristeza não tem fim, felicidade sim...