Sem mim


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Ser sufocado pelas próprias mágoas, pelas próprias ilusões ou desilusões.
O pior não é sufocar, mas sim constatar que apenas você é o culpado pela falta de ar.
Difícil momento em que o ar torna-se rarefeito e não tem ninguém para te salvar.
Mais complicado é ver que não há ausência de pessoas ao seu redor, pelo contrário, você está rodeado de - talvez - pessoas incríveis. Mas tanto faz, afinal, a maior ausência se encontra ali.
Todos estão lá, menos você.

Ausente em si.

Perdido em seu próprio emaranhado de conceitos, ideologias e medos, sem o reconhecimento de seus desejos, sonhos e concretizações. Completamente desnorteado de quem foi, quem é e quem quer ser.

Quem disse que se perder era a melhor maneira de se encontrar, estava muito enganado.

Vítima do dualismo.


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Ser miserável entre os miseráveis
- Carrego em minhas células sombrias
Antagonismos irreconciliáveis
E as mais opostas idiossincrasias!

Muito mais cedo do que o imagináveis
Eis-vos, minha alma, enfim, dada às bravias
Cóleras dos dualismos implacáveis
E à gula negra das antinomias!

Psiquê biforme, o Céu e o Inferno absorvo...
Criação a um tempo escura e cor-de-rosa,
Feita dos mais variáveis elementos,

Ceva-se em minha carne, como um corvo,
A simultaneidade ultramonstruosa
De todos os contrastes famulentos!


-Augusto dos Anjos

Queria voltar a ser eu...


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Voltar ao passado nem tão distante.
Ter na minha presença a completude de meu ser.
Calar as minhas mágoas com as fortes palavras que um dia já escrevi.
Declarar guerra aos momentos de mudez.
Fugir do que me restringe para poder, enfim, encontrar o que me completa.

Aquele momento em que você quer matar qualquer sentimento;


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"O amor era o que mais doía, e de todas as tantas dores, essa a única que jamais confessaria."

"Digo para mim mesmo que não é preciso assassinar o que já está morto (...)"

"Que friagem nenhuma seja capaz de encabular o nosso calor mais bonito."

"Há uma porção de coisas minhas que você não sabe, e que precisaria saber para compreender todas as vezes que fugi de você e voltei (...)"

"Talvez fosse um pedido de socorro envergonhado."

"(...) a minha absoluta falta de habilidade em lidar com as pessoas."

"Para que não me firam, minto. E tomo a providência cuidadosa de eu mesmo me ferir, sem prestar atenção se estou ferindo o outro também."

"Daqui há pouco você vai crescer e achar tudo isso ridículo."

"Ah, a grande náusea por esses pequenos poderosos, que ferem e traem e mentem em nome da manutenção de seu ego imensamente medíocre."


-Caio Fernando Abreu, sempre ele.